Uma história real
Vou começar contanto uma historia de uma paciente (vou mudar o nome dela) que atendi nessa semana…
Maria, 38 anos, é mãe de dois filhos e trabalha como assistente administrativa em uma empresa de médio porte. Durante a juventude, sempre teve um peso estável, mas após a segunda gestação, começou a ganhar peso gradualmente. Entre o trabalho, os cuidados com os filhos e a rotina corrida, os anos foram passando, e ela chegou aos 94 kg. Esse peso trouxe cansaço constante, dores articulares e uma autoestima cada vez mais fragilizada.

Cansada de se sentir assim, Maria decidiu mudar. Iniciou uma dieta extremamente restritiva, praticamente eliminando carboidratos e contando calorias obsessivamente. Combinou a dieta com treinos diários intensos na academia, apesar da rotina exaustiva com o trabalho e os filhos. Em seis meses, conseguiu emagrecer 14 kg, chegando a 80 kg. Sentiu-se vitoriosa e, pela primeira vez em muito tempo, voltou a se olhar no espelho com orgulho.
Porém, essa vitória veio acompanhada de sinais preocupantes: Maria estava sempre com fome, sentia um desejo incontrolável por doces e seu nível de energia despencava. Ela começou a ter dificuldades para dormir e, apesar dos treinos, sentia-se constantemente exausta. Pequenos deslizes na dieta começaram a acontecer — uma sobremesa em um jantar, um lanche fora de hora — seguidos por uma culpa imensa.
Nos seis meses seguintes, o peso voltou a subir gradualmente. Maria viu a balança marcar 91 kg novamente. A frustração tomou conta dela. Sentia que todo o esforço tinha sido em vão e que lhe faltava disciplina para manter os resultados. A vergonha e o desânimo eram constantes.
Desesperada para entender por que não conseguia manter o peso perdido, Maria decidiu procurar ajuda médica.
Ela se sentou na cadeira do meu consultório no início dessa semana que escrevo esse artigo (terceira semana de Dezembro de 2024).
Entre o choro dela, os soluços dela, as minhas explicações e longas pausas para respirarmos (sempre me emociono com as histórias das pacientes) pude revelar para ela por quê isso acontece, como acontece, com que intensidade acontece e como vencer o temível REGANHO DO PESO PERDIDO.
Espero que eu consiga trazer a você uma tomada de consciência sobre essa questão, assim como trouxe à minha paciente, e que você possa se libertar da culpa e da frustração que tantas vezes acompanham esse processo. O reganho de peso não é um reflexo de falha ou falta de esforço, mas sim de mecanismos fisiológicos que o corpo ativa para proteger você. Mas, com ajuda você pode vencer essa batalha.
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1. Reganho de Peso: Uma Defesa Evolutiva do Corpo
A defesa evolutiva contra o reganho de peso é um aspecto fascinante da biologia humana que remonta à pré-história, quando a sobrevivência estava fortemente ligada à disponibilidade de alimentos.
Em tempos antigos, nossos ancestrais enfrentaram períodos prolongados de escassez de alimentos. A natureza do ambiente exigia que os humanos desenvolvessem estratégias para sobreviver durante crises alimentares, como mudanças sazonais e escassez de caça e coleta.
Aqueles que conseguiram armazenar energia em forma de gordura tinham uma vantagem adaptativa. Esse armazenamento de gordura era crucial para a sobrevivência durante épocas em que a comida não estava disponível.

Quando uma pessoa perde peso, o corpo responde como se estivesse enfrentando uma situação de sobrevivência. Os mecanismos biológicos que foram moldados ao longo da evolução começam a atuar para garantir a sobrevivência do indivíduo.
Esse processo é uma resposta adaptativa que garante que, em um ambiente onde os recursos são incertos, o corpo mantenha reservas de energia suficientes.
Após a perda de peso, há uma alteração nos níveis de hormônios que controlam o apetite. O corpo libera mais grelina, que sinaliza a fome, e tem uma redução nos níveis de leptina, que indica saciedade. Essa alteração hormonal aumenta a sensação de fome e faz com que as pessoas sintam mais desejo por alimentos, especialmente calorias.
Com a perda de peso, o metabolismo basal — a quantidade mínima de calorias que o corpo precisa para funcionar em repouso — pode diminuir. Essa redução é uma estratégia do corpo para conservar energia, uma adaptação que foi aumentada ao longo do tempo com a experiência de períodos de alimentação irregular.
O corpo também pode induzir mudanças no comportamento, como uma preferência por alimentos altamente calóricos, para maximizar a ingestão calórica e armazenar gordura novamente. Isso reflete um mecanismo de sobrevivência, onde o corpo tenta recuperar o “peso seguro”
2. Quem Tem Mais Facilidade de Reganhar Peso?
Alguns fatores influenciam o reganho de peso:
2.1 – Causas genéticas
Influência Genética: A genética desempenha um papel significativo na obesidade, com estudos sugerindo que cerca de 60-80% da variação no peso corporal pode ser atribuída a fatores genéticos. Isso significa que, se seus pais ou familiares próximos têm problemas com o peso, você pode ter maior probabilidade de enfrentar desafios semelhantes.
Como Funciona: Genes podem afetar várias coisas, como o modo como seu corpo armazena gordura, como metaboliza alimentos e até mesmo como você sente fome e saciedade. Portanto, algumas pessoas podem ter uma predisposição biológica que aumenta suas chances de reganhar peso.
2.2 – Histórico de dietas restritivas
Efeito das Dietas Rigorosas: Muitas pessoas tentam perder peso através de dietas que limitam drasticamente calorias ou grupos alimentares. Essas dietas podem levar a uma rápida perda de peso, mas também podem desacelerar o metabolismo.
Como Isso Acontece: Quando o corpo sente que está recebendo menos alimentos do que precisa, ele entra em um “modo de sobrevivência”. Isso significa que o corpo começa a queimar menos calorias para conservar energia, o que pode resultar em um metabolismo mais lento. Quando a pessoa retorna a uma alimentação normal, o corpo pode facilmente armazenar mais gordura, levando ao reganho de peso.
2.3 – Mudanças Hormonais
Impacto das Hormônios: Hormônios são substâncias químicas no corpo que ajudam a regular várias funções, incluindo o apetite e o metabolismo. Mudanças hormonais que ocorrem após eventos como gravidez ou menopausa podem afetar o peso.
Exemplo: Após a gravidez, as mulheres podem experimentar alterações nos níveis de hormônios como a leptina e a grelina, que controlam a fome e a saciedade. Além disso, na menopausa, a queda nos níveis de estrogênio pode resultar em um aumento no armazenamento de gordura, especialmente na região abdominal.
2.4 – História familiar de Obesidade

Influência Familiar: Ter membros da família que lutam contra a obesidade pode aumentar o seu próprio risco de reganhar peso. Isso pode acontecer por vários motivos, incluindo genética, mas também por fatores de comportamento, como hábitos alimentares e estilos de vida que são compartilhados na família.
Comportamentos Aprendidos: Muitas vezes, nossas atitudes em relação à comida e à atividade física são influenciadas por nosso ambiente familiar. Se você cresceu em um lar onde as opções alimentares eram menos saudáveis ou a atividade física não era incentivada, pode ser mais difícil manter um peso saudável.
3- O que acontece no corpo durante do REGANHO DE PESO?
Após a perda de peso, seu corpo passa por várias mudanças para se adaptar à nova situação.
3.1 – Redução do metabolismo basal

O que é o Metabolismo Basal?: O metabolismo basal é a quantidade de energia que seu corpo precisa para funcionar em repouso. Isso inclui funções básicas como respiração, circulação sanguínea, e até mesmo a regulação da temperatura do corpo.
O que acontece após a perda de peso?: Quando você emagrece, especialmente de forma rápida, seu corpo sente que está em perigo. Para se adaptar, ele pode reduzir o metabolismo basal para conservar energia. Isso significa que, mesmo quando você não está fazendo nada, você queima menos calorias do que queimava antes de emagrecer.
Por que isso acontece?: Essa redução é uma forma de proteção. Se o corpo perceber que há menos alimento disponível, ele tenta economizar energia para durar mais tempo até que os alimentos voltem a ser abundantes.
3.2 – Fome excessiva
Produção de Hormônios da Fome: Após a perda de peso, seu corpo aumenta a produção de grelina, o hormônio que sinaliza fome. Ao mesmo tempo, os níveis de leptina, que sinaliza saciedade, tendem a cair.
Como isso se manifesta?: Com mais grelina circulando no seu sistema, seu cérebro recebe sinais constantes para comer mais, mesmo que você ainda não esteja realmente com fome. Isso gera uma sensação de fome persistente e pode dificultar resistir a tentações alimentares.
3.3 – Maior armazenamento de gordura
Mudança na Prioridade do Armazenamento: O corpo se mobiliza para reconstruir as reservas de gordura que foram perdidas. Isso ocorre porque, durante a perda de peso, ele apresentou uma “ameaça” à sobrevivência. Para se proteger, o corpo começa a priorizar o acúmulo de gordura, o que pode levar a um aumento nas células de gordura e na forma como essas células armazenam gordura.
Efeitos no Metabolismo: Como resultado, mesmo que você retorne a uma dieta normal, seu corpo pode estar programado para armazenar calorias adicionais como gordura em vez de usá-las como energia. Portanto, o que antes era uma perda de peso significativa pode se transformar rapidamente em ganho, pois o corpo está se preparando para futuros períodos de “fome”.
3.4 – Interações Hormonais
Essas mudanças não ocorrem isoladamente; elas estão interligadas e em constante comunicação. Os hormônios se ajustam como resposta ao que acontece no corpo:
Grelina: Aumenta para mandar sinais de fome ao cérebro.
Leptina: Diminui, o que significa que você não sente a mesma saciedade ao comer.
Insulina: Pode aumentar, especialmente após as refeições. Isso resulta em um maior armazenamento de gordura em resposta ao consumo de alimentos, porque o corpo se prepara para armazenar a energia que pode estar em falta no futuro.
4- Medidas comportamentais para EVITAR O REGANHO DE PESO
4.1 – Mantenha a Atividade Física Regular
Importância da Atividade Física: Exercícios regulares são fundamentais para manter o peso ideal após a perda de peso. Eles ajudam a queimar calorias, aumentar a massa muscular e acelerar o metabolismo.
Exercícios de Força: Focar em exercícios de força (como musculação) é especialmente benéfico, pois aumenta a massa muscular. O músculo queima mais calorias em repouso do que a gordura, o que pode ajudar a aumentar seu metabolismo basal e evitar o reganho de peso.
Regularidade: O ideal é incluir tanto exercícios aeróbicos (como corrida, caminhada e natação) quanto treinamento de resistência (como levantamento de peso) em sua rotina. A recomendação é de pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada por semana, além de exercícios de força em dois ou mais dias da semana.
4.2- Alimentação balanceada
Evitar Dietas Extremas: Dietas muito restritivas podem ser insustentáveis a longo prazo e prejudiciais para o seu metabolismo. Em vez disso, adote uma alimentação balanceada que inclua uma variedade de alimentos.
Dieta Rica em Proteínas e Fibras: Alimentos ricos em proteínas (como carnes magras, ovos, laticínios, leguminosas) e fibras (como frutas, vegetais e grãos integrais) ajudam a promover a saciedade. A proteína e a fibra demoram mais para ser digeridas, fazendo você se sentir satisfeito por mais tempo e, assim, reduzindo a ingestão excessiva de calorias.
Controle de Porções: Prestar atenção ao tamanho das porções e evitar comer por tédio ou estresse também é essencial. Tente ouvir seu corpo e comer apenas até se sentir satisfeito, não até estar cheio.
4.3 – Sono de qualidade
Relação do Sono com o Peso: Um bom sono é crucial para a regulação dos hormônios que controlam o apetite, como a grelina e a leptina. A falta de sono pode aumentar os níveis de grelina (hormônio que sinaliza fome) e diminuir os níveis de leptina (hormônio que promove a saciedade).
Recomendações de Sono: Tente manter uma rotina de sono consistente, buscando de 7 a 9 horas de sono de qualidade por noite. Criar um ambiente propício ao sono, evitando luz intensa e eletrônicos antes de dormir, pode ajudar.

4.4 – Gerencia seu estresse
Relação do Estresse com o Ganho de Peso: O estresse crônico pode elevar os níveis de cortisol, um hormônio que, em excesso, está ligado ao aumento do apetite e ao armazenamento de gordura, especialmente na região abdominal.
Estratégias de Gerenciamento do Estresse: Práticas como meditação, exercícios físicos, passatempos, e técnicas de respiração podem ajudar a reduzir o estresse. Encontrar atividades que você gosta e que ajudem a aliviar a tensão pode ser fundamental para manter o seu bem-estar e evitar o impulso de comer para lidar com o estresse.
5- Medicações: Aliadas Poderosas Contra o Reganho de Peso
As medicações modernas, especialmente os análogos do GLP-1, têm se mostrado eficazes no tratamento da obesidade e na prevenção do reganho de peso.
O Que São Análogos do GLP-1?
GLP-1 (peptídeo 1 semelhante ao glucagon) é um hormônio que desempenha um papel vital na regulação do apetite e do metabolismo. Os análogos do GLP-1 são medicamentos que imitam a ação desse hormônio, ajudando a controlar a fome e a saciedade. Exemplos importantes incluem a Semaglutida e a Tirzepatida.
O que os Análgos do GLP-1 fazem no seu corpo?

Reduzem o apetite
Os análogos do GLP-1 atuam no cérebro, especificamente em áreas que regulam a sensação de saciedade. Eles aumentam a liberação de neurotransmissores que promovem a sensação de plenitude, fazendo com que a pessoa sinta menos fome e seja capaz de controlar melhor a ingestão de alimentos.
Funcionam através da ativação de receptores que aumentam a saciedade, reduzindo a motivação para comer.
Aceleram o Metabolismo
Além de diminuir o apetite, esses medicamentos também podem aumentar o gasto energético. Eles ajudam a regular os processos metabólicos que queimam calorias, tornando mais difícil o reganho de peso após a perda inicial.
Através da regulação do metabolismo da glicose, eles também podem melhorar a resposta do corpo à insulina, auxiliando no controle do açúcar no sangue e ajudando a evitar o acúmulo de gordura.
Retardam o Esvaziamento Gástrico
Os análogos do GLP-1 também retardam o esvaziamento do estômago, o que leva a uma sensação de saciedade prolongada. Isso significa que os indivíduos podem sentir-se satisfeitos por mais tempo, reduzindo a probabilidade de comer em excesso.
A necessidade de tratamento medicamentoso para evitar o reganho de peso após a perda de peso significativa se justifica porque a obesidade é uma doença crônica que exige gerenciamento contínuo, assim como outras condições metabólicas como diabetes tipo 2. Estudos demonstram que a intervenção medicamentosa, como o uso de análogos do GLP-1, pode aumentar a taxa de sucesso na manutenção da perda de peso, ajudando a regular a fome, melhorar a saciedade e aumentar o gasto energético (Dunning et al., 2022; Astrup et al., 2021). A pesquisa realizada por le Roux et al. (2020) ressalta que “a farmacoterapia deve ser considerada não apenas como um suporte à perda de peso, mas como um componente essencial da abordagem abrangente para o tratamento da obesidade, visando prevenir o reganho de peso”. Assim, o suporte medicamentoso é crucial para promover mudanças sustentáveis no estilo de vida e garantir resultados duradouros na gestão do peso.
Fontes:
- Dunning, T., et al. (2022). “The Role of GLP-1 Agonists in Weight Management and Diabetes Control: A Review.” Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism.
- Astrup, A., et al. (2021). “Pharmacotherapy for Obesity: Current and Emerging Therapies.” The Lancet Diabetes & Endocrinology.
- le Roux, C. W., et al. (2020). “The Role of Medical Weight Management in Obesity Treatment.” American Journal of Medicine.
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